São Luís17/06/2010 -17:26Tradição
Com 80 anos de existência, o boi da Fé em Deus é um exemplo de tradição. O orgulho de participar é uma espécie de segunda pele de todos os brincantes
Camilla Andrade
Fundado depois de uma promessa a São João, feita por Laurentino Araújo, falecido há 35 anos, o Boi da Fé em Deus não perdeu suas raízes e é cortejado a cada festejo junino pela comunidade do bairro. Desde a promessa se passaram 80 anos. Antônio Ribeiro, o “Tunico”, 61 anos, dedicou 43 anos de sua vida à brincadeira e é um dos cantadores.
Ele explica as origens do sotaque de Zabumba. “A zabumba tem origem africana, veio primeiro para Alcântara e posteriormente ao município de Guimarães no interior do estado”, disse.
Com 80 anos de existência, o boi ao chegar na capital foi se modernizando e incluindo outros instrumentos. Nascido na Rua 18 no Canto da Fabril, o Boi da Fé em Deus tem sede atualmente na Travessa Fé em Deus. O grupo é composto por 100 integrantes, que se dividem entre zambumbeiros, pandeiristas, cinco cantadores, amo ou cabeceira, vaqueiro, índias ou tapuia, Pai Francisco e Mãe Catirina, além dos animais, como o cavalo, a burrinha e o bode, que ainda relatam a história de um boi que era encenado de forma teatral.
A comunidade do bairro da Fé em Deus se divide nos festejos juninos entre os deveres e a preparação do boi. Ali ninguém reclama do barulho que entoam as zambumbas e dos ensaios que se iniciam no mês de Abril.
O orgulho de participar da brincadeira é uma espécie de segunda pele de todos os bricantes. O exemplo disso vem nas palavras de José Conceição, o “Zezinho”, de 64 anos, 12 deles como brincante e cantador do boi. Ele diz que para cantar no boi antes de tudo é necessário ter memória, melodia e ritmo e que a manifestação da Fé em Deus é única.
"Esse boi é raiz dessa terra e luxo. Como ele nenhum outro tem, duvide quem duvidar”, brinca
O brilho dos cordões
A roupa é uma das mais sofisticadas e incrementadas no bumba meu boi. Miçangas, canutilhos, fitas coloridas e gregas são utilizadas no embelezamento das indumentárias. A gola, saiotes e chapéus de fita são todos bordados delicadamente. Alguns são tão grandes que chegam a pesar cerca de 10kg. Cada franja que compõe a gola pode chegar a quase 2kg somente de miçangas e canutilhos.
Vicência Mendes Araújo, 66 anos, há 20 anos é vaqueira. Nascida na cidade de Guimarães, litoral oriental do Maranhão, ela começou a praticar o bordado a convite de uma amiga, e hoje é a responsável pelo grupo de cerca de seis mulheres que dão cor e vida às roupas dos brincantes.
“É um trabalho minucioso e bastante detalhado, prova disso é que uma roupa completa demora cerca de dois meses para ser bordada”, observa Vivência.
Para facilitar o trabalho elas utilizam uma espécie de cavalete chamado de “bastidor”. Nele o tecido é esticado para facilitar o bordado.
Mantendo a tradição
Seguindo os passos e ensinamentos de Laurentino Araújo, o boi da Fé em Deus é rigoroso em relação ao batismo. O boi tradicionalmente só brinca o São João após o batismo realizado sempre na prévia do santo, na sede do Boi. O batismo segundo os brincantes é uma forma de trazer proteção e pedir bênçãos para quem dança e ao bumba-meu-boi.
A brincadeira não pode parar
Maicon Coelho Silva, 8 anos, e o irmão, Washigton Coelho Silva, 9 anos, são apenas algumas das crianças que participam da brincadeira e esperanças de continuarem com o boi e a tradição. Os dois brincam como vaqueiros e foram levados pela própria mãe Luciana Coelho que incentivou a participarem do boi.
“Gosto do boi e de tocar pandeiro, quero sair no boi da Fé em Deus até o resto da minha vida”, revela Washigton ao expressar, apesar de pequeno,a paixão pelo sotaque de zabumba.
Disponível em:
http://www2.oimparcial.com.br/noticias.php?id=49052
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